26 de agosto de 2015

Pequenos pedaços de tempo.

Sentou-se na jangada que se encontrava, tal como tantos outros dias, à beira de um rio esquecido no tempo. Queria dissipar todos os resquícios de pensamentos que o prendiam ao exterior, ou que o impedissem de tentar ver com clareza o céu da sua imaginação. Naquela altura, sentiu que era o momento ideal para matar todos os fantasmas da sua mente e voltar a clicar no botão play da vida. Sabia que isso não seria possível mas não se importava, para já. Dançava ao sabor das ondas que embatiam suavemente na jangada, tinha os olhos fechados e o cabelo curto esvoaçava, contudo o seu penteado continuava perfeito e intacto, como aliás, era hábito.
Nunca chegou a saber de quem era aquela jangada que, desde a sua infância, se encontrava cuidadosamente, estacionada numa das margens do rio. Lembrava-se, perfeitamente, quando o seu pai a mostrou pela primeira vez. Era um dia cinzento de inverno, que, ainda assim, não os impediu que fossem dar o seu passeio pela pequena e pacata vila em que habitavam.  Agora, que voltava a desenhar essas memórias na tela do seu pensamento, apercebia-se como a jangada já tinha sofrido a erosão do tempo, contudo, naquele instante, parecia-lhe mais bela do que nunca.
Após duas, quem sabe três horas, sentia-se uma pessoa diferente daquela que o rio tinha visto chegar. Conseguia sentir uma paz impossível de descrever em meras palavras, tinha esvaziado o peito, e atirado ao rio todas as memórias que funcionavam, até então, como amarras que o prendiam a um passado próximo demasiado pesado para que pudesse suportar nos seus ombros.
Por breves instantes, julgou ter soltado as cordas que prendiam a jangada à margem do rio, sentiu que enfrentava a pequena corrente e que navegava liberto de si mesmo. Não sabia ao certo, de onde vinha, nem tão pouco para onde iria mas, não se importava porque, afinal de contas, não saberia quando voltaria a ter um momento assim, em que fosse capaz de lavar o rosto do seu coração.

29 comentários :

  1. r: então vê, pode ser que gostes :)
    não tens o botão para seguir?

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  2. Uau, adorei, está fantástico!

    r: É o mais importante, sem dúvida*

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  3. adorei, muito bem escrito!!! foste tu? :)
    r: obrigada!

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  4. r: como é que eu posso seguir o teu blog? :)

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  5. r: Não tens que agradecer, minha querida, só disse a verdade :)

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  6. E era tão bom que fosse assim tão fácil limpar todas as mágoas! Adorei o texto querida :)

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  7. Não consigo perceber se isto é inteiramente fictício se tem pedaços de ti, mas de qualquer forma adorei ler :)

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  8. Adorei :))) O texto está fantástico e por vezes, faz mesmo falta voltar a uma jangada *

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  9. amei o texto :))))) e adoro o facto de saber que alguém tem algo em comum comigo :P

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  10. R : O tempo passa por nós e nem dá-mos fé :)

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  11. r. Aquele já foi, felizmente :) muito obrigada, minha querida*

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  12. r: e aproveito esses momentos ao máximo :)

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  13. Está mesmo bem, adorei!!
    r: É realmente muito bom, mas mais pelo ambiente, pelo espírito. Sim, é sempre, eu só gostei de uma ou duas, vê lá tu xD
    Boh, não, não sei de nada, desde Domingo que não falamos, porque eu sei que se não for eu a dizer algo, ela também não diz :s

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  14. R: e vamos continuar doce, muito obrigada mesmo :)
    E muitas felicidades também para ti!

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  15. R: obrigada querida, já te sigo :)

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  16. Um texto muuuuuito lindo. Amei!
    Que boms sao os momentos assim nos que agente consigue esquecer de tudo. As X é preciso mesmo, né? Mas nao e fazil te-los.


    Beijinhos

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  17. Dei um suspiro no final.
    Que maravilha de texto!

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  18. Gosto do texto :)

    http://trapeziovermelho.blogspot.pt

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